74.

O meu desenho dava um filme. Se há algo que sempre me fascinou no mundo dos desenhos foi ver outras pessoas desenhar. Ninguém desenha a mesma forma da mesma… forma. Todas as opções tomadas são únicas e aquilo que na cabeça de quem está a desenhar parece óbvio, na cabeça de quem assiste só começa a fazer sentido lá muito mais para a frente. Uma das minhas lembranças mais antigas relacionadas com este assunto prende-se a um programa televisivo da minha infância chamado “Jornalinho” onde um senhor desenhava as mascotes do programa num bocado de papel de cenário, em contra-luz. Eu assistia àquilo fascinado, admirado pelo facto de ele começar os narizes sempre pelo sítio onde eu terminava os meus narizes. Mais tarde, ao verem-me desenhar, amigos meus confessaram-me sentir o mesmo que eu sentia ao ver nascer aqueles desenhos: uma total incompreensão perante aqueles riscos, e os espaços entres os riscos, manchas de tinta que vão dividindo a folha em pequenas parcelas até que a folha deixa de ser folha e os riscos deixam de ser riscos e tudo passa a fazer sentido.



Uma resposta a “74.”

  1. Gostei muito desta, ficava bem na minha sala! Está com uma luz mesmo positiva!

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