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INTERNAMENTO (5/7). Aos poucos, aqueles sons que tinham ganho caras, ganharam nomes também. O homem de meia idade magrinho chamava-se Sr. Pires. Tinha a típica figura do Marialva. Calado, corpo seco, gestos elegantes. Nas feições, no corte de cabelo e na pose adivinhava-se a glória de outros tempos. Foi visitado pela filha na véspera de sair; O homem de meia idade gordo chamava-se Sr. Luis. Com a voz grave e profunda e o olhar triste e húmido, era um homem todo redondo. De gestos lentos e tosse constante. Era sempre muito calmo porém, quando a mulher o visitava, o seu comportamento alterava-se radicalmente – quem conhecer a mulher entenderá porquê; O toxicodependente em constante ressaca chamava-se Manuel. Tinha 40 anos que pareciam 60. Olhos enevoados onde dificilmente se descobria o verde que já tinha sido bonito. Com feições e peso de pardal, os dentes já há muito tinham voado. Sorria constantemente e não conseguia estar parado. Estava literalmente em casa porque quando tivesse alta ia para a rua e porque regressava amiúde àquela ala do Hospital. Alternava períodos de dormência com picos de excitação e quando se sentia melhor vestia o roupão e ia lá abaixo onde arrumava uns carros. Depois trazia uns trocos com os quais, na máquina do piso de baixo, tirava cafés que sorvia com barulho. Uma vez, em desespero por não lhe darem a Metadona que o corpo exigia, piscou-me o olho e saiu da sala em passo acelerado. Voltou pouco depois com um pequeno frasco escondido na mão: “julgam que não sei onde ela está guardada”. Ele próprio a administrou. Depois deitou-se e finalmente dormiu. Ninguém o visitou durante os dias que lá estive.