INTERNAMENTO (6/7). O Sr. Pires acabou por ter alta e então chegou o Sergei – que mal falava português – para o seu lugar. Entretanto, os médicos descobriam que a criança saudável que correu e pedalou pelas fazendas, que jogou à bola sobre a relva, sobre o feno e sobre os pólens e respirou o pó dos pinheiros durante verões inteiros, essa criança ficou asmática aos 33 anos. Eu achava que as coisas não eram assim, mas são. Fizeram-me perceber que naquele momento eu mal conseguia apagar uma vela e ensinaram-me a controlar a respiração de forma a evitar os ataques de tosse. As auxiliares eram incansáveis e incrivelmente bem dispostas dado o tamanho dos sapos que tinham que engolir todos os dias. Há quem confunda “estar internado” com “estar alojado” e se queixe de tudo. Tudo. Por mim, o facto de todos estarem a dar o seu melhor para que eu melhorasse e regressasse o mais depressa possível a casa, bastava-me. Pouco me interessava se a sopa estava aguada ou a precisar de sal. ::: O Campeonato do Mundo de Futebol estava a acontecer na África do Sul por esses dias. Foi numa sala de estar do Hospital que vi o jogo Portugal x Costa do Marfim e não mais me saiu da cabeça o comentário duma médica no final desse primeiro jogo da Selecção, o comentário mais conciso e acertado que ouvi até hoje sobre o Carlos Queiroz: “Falta-lhe estamina!”. Curiosamente, esses noventa minutos são das memórias mais dolorosas que guardo do internamento.
Uma resposta a “97.”
Brutal.