108.

CHANTEUR. Quando chega a hora de deitar, a história que o meu filho me pede com mais frequência não é nenhuma em particular mas sim “uma história desenhada”. Preferencialmente uma nova história desenhada todas as noites. Há uns anos tempos atrás, como poderia eu imaginar que as histórias (principalmente as desenhadas!) que contaria para o meu filho adormecer seriam desenhadas ali mesmo, na cama, num computadorzinho mais pequeno que uma folha A4? A maior vantagem em relação ao caderno está sobretudo nesta aplicação fantástica chamada Brushes que nos permite rever o filme do desenho desde o princípio. Chego a fazer histórias completas, com vários personagens e acontecimentos só para depois vermos tudo de novo. O Brushes é o novo “conta outra vez, Pai!” ::: Este desenho/filme começou por ser uma história de astronautas, com estrelas e naves espaciais mas depressa se transformou numa outra coisa qualquer mal chegaram as letras. No iPad não existe o conceito “de-pernas-para-o-ar” uma vez que o ecrã é sensível à força gravítica e ajusta-se sozinho à posição em causa mas quando se passa o histórico do desenho para filme, isso deixa de acontecer. Assim sendo, cada Monstro-Letra que desenhei naquela noite – um abecedário completo de cores, chifres e dentes pontiagudos – surge aqui perigosamente a fazer o pino. Depois, sem aviso prévio, o fundo passa a branco e surge um Rato que aparentemente corre atrás de um Gato. Então um senhor de óculos e bigode faz uma aparição fugaz mesmo antes do meu filho me tirar a caneta da mão e ele próprio desenhar um avião que também é um tubarão. Ou vice-versa. Volta o fundo preto e antes que aquele figo amarelo acabasse de ser desenhado, o meu filho adormeceu. ::: Por um motivo qualquer, continuei a desenhar: uma cabeça, depois um nariz uma boca uns olhos e um cabelo e fui por aí fora até surgir uma cara que me fez lembrar um cantor francês dos anos 60. Percebi que estava obviamente na hora de ir dormir também. Fui.


Respostas de 9 a “108.”

  1. Muito bom, como sempre!
    Se bem que o “nosso” Brel era belga, mas vá… =D
    Beijinho

  2. É verdade. O que é que queres… já estava praticamente a dormir, pá! 😉

    (Achas que mudar agora a expressão para “cantor francófono” dá muita bandeira?)

  3. Adorei! Tudo: os desenhos, o filme, as técnologias que para mim são um mistério ,o Brel, mas sobretudo a maneira linda como o meu neto adormece

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