Em dias como este, as Senhoras da Av. de Roma agrupam-se para trocar notícias mais perto umas das outras do que é habitual. Sobem as golas dos casacos e soltam perfumes de naftalina entre as amigas.
Em dias como este, as Senhoras da Av. de Roma ocupam todas as mesas da parte de dentro dos cafés e lêem as revistas duma ponta à outra. Depois vão buscar o neto à escola, talvez mesmo dois ou três, com casaquinhos debaixo do braço “que a mamã não pensou que ia ficar tão desagradável”. Voltam à formação cerrada nos bancos do parque infantil.
As Senhoras da Av. de Roma demoram muito tempo a subir as escadas que os netos galgaram numa corrida e param de vez em quando para descansar sempre nos mesmos degraus. Perdem muito tempo a encontrar as chaves dentro da mala gorda e depois mais tempo para encontrar a chave certa no meio de tantas.
Para o lanche fazem chá para elas e leite com chocolate para os meninos. Os netos devoram as torradinhas com a manteiga mais saborosa que algum dia hão de provar mas, sabiamente, não tocam no sortido de bolachas que por ali anda desde o Natal. Cada vez há menos Senhoras destas na Av. de Roma e restante Lisboa. E eu acho que fazem falta.