No ano 2000 (ou terá sido 2001?) tive o privilégio de fazer parte de um grupo excepcional de pessoas que se reuniam semanalmente para, devidamente orientadas, escrever. Melhor: para escrever e ler. Porque depois de escritos os textos eram lidos em voz alta.
Descobrimos assim – cada um de nós – que a nossa voz era única também pelas palavras que escolhíamos e pelas que deixávamos de fora e não apenas pelas diferenças no timbre com que depois as entregávamos aos outros.
Desse grupo fazia parte o Vasco que foi dos poucos que continuou abraçado às letras porque o Vasco… não tem como lhes fugir.
O Vasco nasceu poeta. Com aquela capacidade rara de escolher palavras a dedo e encaixa-las onde menos se espera e onde novos sentidos fazem. O Vasco utiliza palavras graves e sérias e no entanto os seus textos permanecem simples. São poemas encorpados, densos e bonitos.
À parte isso, o Vasco tem muitas coisas em comum comigo e tornou-se inevitável e instantaneamente meu amigo. No entanto, vá-se lá saber porquê, estivemos dez anos (!) sem saber um do outro.
Há um mês atrás procurei-o no Facebook – um lugar cheio de amigos perdidos – e encontrei-o. Escrevi-lhe uma mensagem à qual me respondeu de imediato, com o mesmo entusiasmo sereno de sempre.
Resumimos rapidamente a década de cada um. Falámos dos projectos, das viagens, dos filhos respectivos. Às tantas falei-lhe deste blogue e ele falou-me duma proposta. Combinámos um almoço e ele explicou: “Reencontrámo-nos precisamente no momento em que procuro uma capa para o meu livro. Teria muito gosto que fosses tu a fazê-la”.
O livro é tremendo e o tema diz-me muito. Foi fácil.
É com muita honra que verei ser lançado no próximo sábado, pelas 22h no Bar d´A Barraca, o livro “Fera Oculta”, do meu amigo Vasco Gato. Com uma ilustração minha na capa.
Uma resposta a “Amizade Oculta”
Deixaste-me a pensar…
Nas surpresas que nos reservam os rostos do dia-a-dia (tu 😉 )
Nos encontros em que o tempo não passa
Numa nostalgia de um tempo que passa sem que consigamos agarrar tudo!