Um dia conheci a planta mais triste do mundo.
Vive numa cave da Reboleira, com uma fila de janelinhas rasgadas, onde o sol entra a custo filtrado por vidros daqueles com arame por dentro.
E essa cave é uma Repartição das Finanças.
Está para ali, sabe Deus há quanto tempo, a fotossintetizar no meio do pó dos processos, das pilhas de papéis amarelados, dos gorduchos peixinhos-de-prata.
Passa o dia a ouvir palavras – “penhora”, “contribuição”, “imi”, “notificação”, “já tirou a senha?”, “caducado”, “imposto”, “isso agora…” – mas ninguém conversa com ela.
E não sabe o que é a música.
Um dia desenhei a planta mais triste do mundo por piedade.