Quando terminou a sua fatia do bolo de framboesa, a princesa adolescente deu o piquenique por terminado.
Mergulhou as mãos na água verde-escura da fonte mais próxima. Quase até ao cotovelo, só até molhar as pregas das mangas enroladas. Depois, com um sorriso e um ligeiro movimento do pescoço, dispensou a aia que se esgueirou de sombra em sombra até o fresco da cozinha.
Então, num só gesto, arrastou pratos copos o bolo quase intacto talheres frascos de compota para a relva e pôs de parte a toalha branca. Colocou o banquinho de verga sobre a boca do cesto e atou-os muito bem. Depois, com uma das pontas da toalha deu um nó em volta de uma das pernas do banco – cá em cima, mesmo abaixo do assento – e repetiu o gesto para cada uma das outras pontas.
Encostou as costas ao Diospireiro, deu dois passos em frente, cinco para o lado, e desenterrou a caixa de metal onde guardava todas as cartas por ele escritas. Sobre o banquinho formou com elas um pequeno monte. Depois, primeiro uma perna depois a outra, entrou para o cesto e riscou um fósforo.
Enquanto subia acima dos telhados do palácio e as cozinheiras – a secar as mãos gordas aos aventais – vinham ver que sombra era aquela que se movia, a princesa adolescente começou a vislumbrar o muro alto que cintava a sua vida.
Pela primeira vez, acreditou que aquela talvez não fosse uma má ideia. Desta vez iria resultar.